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Foto do escritorJorge Quiros

O desenho do escorço - a arte de deformar

Atualizado: 23 de jun.









O DESENHO DO ESCORÇO - A ARTE DE DEFORMAR





As belas proporções de um desenho que um artista em formação necessita decorar, pois, irão deixá-lo apto ao desenho da natureza das formas sob os pontos de vista clássicos que se nos apresentam, isto é, por exemplo no que tange à execução do desenho de um retrato resumir-se-ão às posições frontal, meio-perfil e perfil. Contudo, como o rosto humano se comporta, seja no desenho, seja na realidade mesma da qual o observamos, como o rosto humano se comporta quando este é visto sob um escorço, isto é, sob planos de perspectiva excêntricos os quais deformam o desenho a ponto de deixá-lo deveras afastado da forma clássica em que este se apresenta sob o ponto de vista clássico?


As formas estão sempre a comportarem-se em uma dinâmica cuja escapa à memória que possuímos de suas posições, e por mais regras que haja sobre as estruturas do rosto humano, ou do corpo humano, sobre suas proporções e medidas, sempre haverá uma situação em que nos depararemos com a forma do rosto, do corpo, ou de outro objeto qualquer sob um escorço.


Mas em que, pois, se constitui um escorço?


Um escorço é um desenho em que a forma se distorce de tal maneira, pelo ângulo em que a vemos, que nos deparamos com uma deformação da forma aparente e de sua apresentação excêntrica.


Tal deformação nos revela as ações da perspectiva sobre a imagem, aonde esta última cede às forças espaciais da primeira. Logo, um escorço é uma deformação necessária ao enquadramento do desenho dentro das leis de perspectiva.


Assim, as proporções como que se achatam, por um lado, assim como se alongam, por outro; sendo que o seu significado derivado do italiano indica "encurtar" ou "achatar": scorciare.

Uma ideia de "encurtamento" nos remete à ideia de afastamento, uma vez que os objetos diminuem de tamanho quando se afastam de nossa vista, ligando-se, assim, à ideia da perspectiva.


Aqui haverá alguns exemplos de desenho em escorço que produzi, e cuja prática recomendo para aquisição da ampliação das capacidades de desenho. Isto porque a liberdade de deformar, tal como a capacidade de medir, cabe dentro do repertório de habilidades artísticas necessárias ao bom desenho.




desenho em escorço, dançarinos, nanquim
Dançarinos - nanquim sobre papel; 2024; por Jorge Quiros.

Dançarinos, nanquim
Desenho em escorço, Dançarinos, nanquim

Acima, um exemplo de um escorço, produzido pela perspectiva da cena e aumentando a dinâmica do movimento. O ponto de vista, alocado na parte inferior do espaço, nos introduz como que por dentro do espaço aonde os dançarinos estão, nos fazendo sentir melhor a graciosidade de seus movimentos e a ideia do corpo dançando em meio ao ambiente.



desenho retrato a carvão
desenho retrato a carvão

Ao lado, um desenho em uma típica pose clássica, os olhos aparecem como os temos em nossas imaginações, assim como todos os elementos da face, o que lhe faz mais reconhecível e bela.



Abaixo alguns desenhos do rosto humano que fiz em escorço, como se pode notar, as deformações são evidentes, o que caracteriza um drama na imagem e por conseguinte sua expressão incomum e mesmo desconcertante em alguns casos.









Geralmente, quando pensamos em um rosto, o pensamos em sua forma mais clássica, pois nos é a forma mais clara e identificável, isto é, a forma sob a qual o rosto se mostra mais plenamente e claramente.

Porém, por isso mesmo, torna-se as vezes para um desenhista menos treinado na arte de desenhar sob múltiplas perspectivas, algo mais trabalhoso representar um rosto quando este jaz afastado de sua clara revelação.


... Ver um corpo humano do alto de uma escada, quando se está na parte mais baixa da mesma - no solo - nos dará um exemplo de imagem ao escorço, e se tentarmos desenhá-la, sem esta capacidade deformatória e sem devidos repertórios necessários do desenho, notaremos uma dificuldade em desenhá-la, como se o lápis e nossa mão não entendessem o que os olhos percebem, como se ambos não estivessem devidamente conectados...


Cézanne possuía motivos para criar suas deformações, e embora seja um outro assunto - o da deformação utópica - Cézanne o fazia para entender melhor a imagem, vendo que a perspectiva e sua relação ao nosso olho nos fornece inúmeras imagens sobre uma mesma forma.


Muitos desenhistas de quadrinhos, por sua vez, usam o escorço para aumentar o drama de suas composições.

Em que pese o exagero no desenho do escorço e das precauções que um desenhista que vise adquirir o bom desenho realista deva possuir em relação aos exageros deformatórios, um olho apto a identificar a forma que está se apresentando sob escorço é fundamental para o desenho de qualquer objeto ou pessoa.


É por isso, pois, que recomendo seriamente desenvolver a sutil arte de ver, a percepção das formas em suas realidades manifestas. Um perfil, pois, por si mesmo já nos mostra alguma deformação em relação a uma vista frontal de um rosto para um desenho ou pintura, uma vez que os elementos do rosto no perfil se recolhem todos à determinado terço da periferia em que a cabeça humana se revela, e suas formas reduzem as proporções de sua medida em comparação a um rosto visto de frente.


Isto é, conforme a forma muda o ângulo, muda-se o desenho.


Então, quando olhamos devemos não exatamente pensar sobre a forma que estamos percebendo de acordo com o que "conhecemos" dela, mas sim no sentido de percepção real daquilo que está diante de nós.

As formas interagem com nossos olhos sob a vastidão do espaço, elas mudam como mudam os números de uma escala, ou os tons de uma cor conforme o trafegar do dia, embora as posições clássicas são os pontos de vista em que a forma melhor se revele, isto é, em que a sua beleza se mostre a nós idealmente, e são de fato as posições em cujas mais devemos treinar por conta do senso das proporções e suas respectivas harmonias, um desenhista que desenhe de tudo, deve conseguir desenhar a forma seja em seu ideal, seja em sua excentricidade.




 














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