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Foto do escritorJorge Quiros

Pintando com meios diversos ao óleo: pastel seco e aquarelas, algumas reflexões.

Atualizado: 30 de abr.











PINTANDO COM MEIOS DIVERSOS AO ÓLEO: PASTEL SECO E AQUARELAS, ALGUMAS REFLEXÕES.



As pinturas a óleo eram para as grandes exibições, mas os pastéis eram o meio do momento, isto é, feitos sem tanto planejamento o que lhes dá característica de técnica impressionista (...)



Pastel seco sobre papel, A dialética, por Jorge Quiros
Pastel seco sobre papel, A dialética, por Jorge Quiros


Quando os impressionistas expuseram em seu Salão dos independentes, o que chamava a atenção era o grande número de obras em pastel ante os óleos sobre tela; o meio simples, econômico e espontâneo do pastel de fato permite, aos que sabem lhe extrair a força, pinturas em maior volume e frequência de produção; no caso dos impressionistas, o pastel poderia mesmo ser considerado estando, segundo sua filosofia radical, no ápice das técnicas impressionistas.


As pinturas a óleo eram para as grandes exibições, mas os pastéis eram o meio do momento, isto é, feitos sem tanto planejamento o que lhes dá característica de técnica impressionista, ao passo que muitos óleos sobre tela eram feitos de modo mais planejado, e segundo certo luxo de produção; logicamente isto não se constitui numa regra absoluta que os artistas usavam, mas o fato do pastel como meio possibilita uma abordagem mais "impressionista" da obra, isto é, mais momentânea, mais espontânea e mais direta.



Esta espontaneidade, certamente se deve ao suporte do material, uma vez que a maioria das produções em papel requerem menos problemas a se resolver; não obstante, é possível pintar com espontaneidade sobre telas, mas ainda assim haverá o problema da mistura das cores sobre a paleta a se resolver, no caso dos pastéis a mistura se faz no próprio suporte, esfregando, esfumando, sendo, como disse muito bem Da Vinci: " Um pintar a seco".


Como na época em que os pintores independentes da academia - os então intitulados "impressionistas" - não haviam ainda disponíveis tintas acrílicas ( de secagem mais rápida) para se realizar esboços pictóricos em grande volume e com a mesma facilidade com a qual se faz um desenho, isto é, sendo necessário apenas segurar uma prancheta e esfregar o giz sobre o papel, captando os tons daquilo que se está observando diante dos olhos, tal como apenas sentar-se sobre uma cadeira e mesa, tomando alguns bastões para fazer um estudo de tom do momento, as aquarelas e os pastéis se tornavam meios prediletos de muitos pintores para realizarem pinturas mais simples e estudos cujos os levariam a um domínio do tom pela sutilização do olho e que posteriormente lhes forneceria um melhor domínio da pintura a óleo pelo domínio das técnicas mais fugazes de pintura.


Podemos citar, entre os muitos pintores - hábeis na pintura de cavalete a óleo - que realizavam tanto mais pinturas a pastéis ou aquarelas do que óleos, Edgar Degas, Mary Cassat, Berthe Morisot, Anders Zorn, William Turner ( estes dois últimos, por aquarelas). Adolph Menzel, por sua vez, em dada altura de sua carreira abandonou o ímpeto de produção dos óleos, inclinado às atrações de produzir inúmeros guaches.

Por outro lado, houve pintores do Rococó - durante os séculos de ascenção da técnica a pastel seco, respectivamente séculos XVII e XVIII) - que realizavam pinturas em pastel seco de um realismo clacissista ( magnificamente acabados) que superava muitas pinturas a óleo, o que fez a pintura a pastel se popularizar e se edificar sob a mão de Rosalba Carriera.


Não obstante, em artistas como Odilon Redon, o pastel era o meio principal de sua obra, usado de modo heterogêneo e se aprofundando nos efeitos que a matéria dos pastéis poderia dispor ao suporte e cuja extensão profunda dos efeitos nenhum outro meio poderia replicar.


Aquarelas e guaches requerem água como médium de suas cores, o que lhes converte em um meio mais simples e mesmo fácil de pintura, podendo pintar com as mesmas em lugares fechados e sem ventilação, como quartos e apartamentos, sua natureza de harmonia aos papéis as transformaram em meios prediletos dos ilustradores ( antes do advento da era digital). cujos herdaram suas técnicas de cor, pintura e harmonia de tons dos pintores a óleo da antiguidade. Para os pastéis, são necessários apenas uma mesa, um papel, alguns bastões ( cujos possuem marcas baratas e de certa qualidade no mercado) e os dedos mesmos da mão, após concluir a pintura basta borrifar-lhes camadas de verniz fixador. São mais fáceis de guardar também em comparação com pinturas de óleo sobre tela, cuja armação em madeira exige certa demanda de espaço para alocá-las e um maior cuidado para com o acúmulo de poeira na superfície. Já aquarelas e pastéis, basta uma pasta de plásticos e o papel ali residirá sob boa morada. Um jeito alternativo, contudo, para se alocar mais pinturas a óleo ocupando menos espaços seria pintar-lhes na tela estendida fora da armadura de madeira, e, após secarem, enrolá-las para em seguida guardarem-lhe num tubo ou em um armário.

Até certo ponto, guaches, pastéis, acrílicas e mesmo aquarelas ( caso o aquarelista saiba lhe extrair toda a potência) podem se assemelhar muito aos óleos, que aliás, conforme algumas técnicas antigas - como a da pintura a óleo por vernizes - se aproxima em muito das aguadas da aquarela para pintura de sobreposição e transparências.


Ocorre que a técnica de arte - a realização da obra - é uma pedra filosofal, isto seja, é uma conquista absoluta de lograr a obra cuja pode ser aplicada sob qualquer meio, respeitando seus níveis de potência em determinados aspectos que se limitam em determinados meios para ampliarem-se em outros, através da via única da obra. Assim, o mesmo caminho da aquarela poderá ser aplicado aos óleos, e vice versa, idem com os pastéis.


Em minha sincera opinião, a potência dos óleos ( sua capacidade plástica) é insuperável, por isso não os considero tão somente bons para pinturas demoradas e realizadas sob diversas camadas ( para o efeito do realismo da pintura), mas são bons para as pinturas fugazes, para os empastes, para o jeito mesmo impressionista de pintar; os óleos transmitem uma plástica material que faz as pinturas emanar uma força tridimensional por um suporte bidimensional, com uma plástica similar a das argilas que modela as formas de uma escultura.


Mas a sutileza das outras técnicas ( dos pastéis, aquarelas e guaches) são únicas, e a possibilidade de produzir inúmeros desenhos ou pinturas, tal como a simplicidade que estes meios requerem para realizá-los, os fazem um irresistível convite a lhes sondar as nuances, lhes explorar as particularidades e lhes dominar a técnica.






PS: A imagem ilustrativa presente no cabeçalho deste texto, se trata da obra de minha autoria chamada "Dialética", feita em pastel seco sobre papel, foi realizada em 2022, sendo o primeiro pastel seco realizado após anos sem sentir-lhe o cheiro do giz.












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